Novo Festival Internacional de Linguagem Eletrônica reúne obras de 39 países
A interação entre as inteligências artificiais e a humanidade inspira mais uma edição do Festival Internacional de Linguagem Eletrônica – FILE, que ocupa o Espaço de Exposições do Centro Cultural Fiesp, de 5 de julho a 27 de agosto. A visitação à exposição principal acontece de terça a domingo, das 10h às 20h, com entrada gratuita. O tema da atual edição do festival é “Singularidades Interativas”, uma referência à hipótese de que a interação mútua entre as inteligências artificiais (IAs) e humanas levaria ao desenvolvimento de uma consciência simulada, ou seja, de um “eu artificial”, que poderia dialogar com o “eu natural”, trocando informações e experiências de diversas maneiras.
Essa ideia, segundo Paula Perissinotto e Ricardo Barreto, os curadores e cofundadores do FILE, vai na contramão daquele pensamento de que a IA se tornará em breve autônoma e autoconsciente. “Uma ‘consciência mixada’ conjunta conectaria consciências humanas ao vasto conhecimento produzido na história da humanidade por intermédio de uma consciência artificial e isso poderia ocasionar uma transformação evolutiva. Não como uma única singularidade artificial que dominaria a humanidade, mas como ‘Singularidades Mixadas’ que interagiriam entre si, na solução dos problemas complexos do mundo”, explicam os curadores sobre a proposta da edição.
A programação do FILE São Paulo 2023 é composta pela exposição principal, uma instalação na entrada do Centro Cultural Fiesp, projeções de trabalhos na fachada do prédio, parcerias com outras instituições, workshops e uma instalação no Metrô.
Realizado em parceria com o SESI-SP, desde 2004, o festival é um evento em que o público pode interagir e conhecer o que há de mais inovador na união entre arte, ciência e tecnologia.
Destaques
A exposição principal do FILE São Paulo 2023 reúne 183 participações de 302 artistas, vindos de 39 países, como Brasil, Estados Unidos, Argentina, Alemanha, China, França, Finlândia, Japão, Irã, Reino Unido, Espanha, México, Colômbia, Itália e Portugal.
A ideia é que os visitantes possam interagir ativamente com essas obras e, dessa forma, aprendam com essas experiências estéticas. O público se deparará com novas possibilidades de pensar e de agir em um mundo tecnológico menos massificado, além de se adaptar ao desenvolvimento acelerado das novas formas de Arte, não apenas estéticas, mas também inteligentes.
Uma das obras da mostra é a instalação interativa “Expanded Iris” (2022), da brasileira Anaisa Franco, que convida os visitantes a olhar por um dispositivo chamado pela artista de “iriscópio espacial” (“space iriscope”). O instrumento escaneia a íris da pessoa e projeta sua imagem misturada a galáxias e nebulosas. A ideia é que o público possa olhar para o micro-universo da íris e encontrar similaridades com o Universo das galáxias.
A finlandesa Hanna Haaslahti apresenta a instalação “Captured” (2021), que captura o rosto do visitante e cria um avatar digital para ele em um cenário coletivo no mundo virtual. A ideia desse trabalho, que explora captura fotorrealista e tecnologias em 3D, é que, ao ver seu duplo digital, a pessoa se torne ao mesmo tempo espectadora e atuante na obra.
A dupla canadense Victor Drouin-Trempe (V.ICTOR) e Jean-Philippe Côté (Djip.Co) traz para a exposição a instalação “Empreintes Sonores” (2022), que propõe uma reflexão sobre os rastros digitais que deixamos na vida contemporânea. Na prática, uma assistente digital ativada por voz escuta discretamente e grava os sons emitidos pelas pessoas na instalação. Esses registros sonoros são mixados e transformados em imagem. Com o recurso de sensores de movimento, os visitantes podem percorrer os rastros das ondas sonoras, interferindo na reprodução dos sons originais.
Outro destaque é “VastWaste” (2022), da norte-americana Özge Samanci, uma instalação em realidade virtual que propõe uma conscientização em relação à exploração espacial, baseada em dados que revelam conexões entre a poluição marítima e a recente poluição espacial. Na obra, é possível vivenciar por meio de recursos sonoros e visuais, as altas velocidades dos detritos de satélites e o seu impacto na atmosfera e mares.
Já a instalação “Phase” (2022), de Seph Li, de Hong Kong, também é criada a partir da geração de dados. A obra é inspirada em um conjunto de regras estabelecidas a partir do Projeto de Física de Wolfram misturado ao universo do taoísmo chinês, transformando hipóteses científicas em um sistema visual generativo. Nessa experiência, os visitantes podem manipular animações em 4k a partir do movimento.
Destaca-se também a obra Unbonded on a Bonded Domain, encomendado pela FACT, Londres, do artista brasileiro de Gabriel Massan, que procura alinhar a experiência emocional de sua infância no Rio de Janeiro, adolescência em São Paulo e maturidade na Europa como matéria-prima para seu trabalho, seguindo as dicas da escritora e acadêmica Saidiya Hartman no conceito de ”Fabulação Crítica”, para explorar um ecossistema virtual.
Os visitantes do FILE terão a oportunidade de experimentar o jogo HUMANITY, lançado recentemente pelo estúdio japonês Enhance, liderado pelo criador de jogos Tetsuya Mizuguchi. A equipe se dedica a criar experiências de entretenimento emocionais e sinestésicas por meio do poder de jogos, VR, AR, MR e tecnologia móvel.
Por fim, no trabalho Learning to see do artista turco Memo Akten, o público poderá observar e manipular em tempo real a percepção de redes neurais que reinterpretam objetos do cotidiano para gerar composições visuais, fazendo surgir paisagens na tela.
Ativação especial
Logo na entrada do Centro Cultural Fiesp, o público se depara com a instalação “Light Falls” (2021), do brasileiro Vigas (Leandro Mendes Vigas). Com 5 metros de altura, a obra em formato de cachoeira propõe uma reflexão sobre a importância da água e da preservação da natureza. O trabalho é formado por grandes tubos que partem do alto e imitam o curso da água até o chão, onde se entrelaçam no chão, criando o efeito da água batendo nas pedras. E ao fundo, o visitante pode ouvir sons da Floresta Amazônica.
Obras
Nesta edição, o festival será realizado no subsolo do Centro Cultural Fiesp e está um pouco menor do que nos anos anteriores, mas trazendo obras que vão impressionar o público, como a Empreintes Sonores, da dupla canadense Victor Drouin-Trempe (V.ICTOR) e Jean-Philippe Côté (Djip.Co). Nessa obra, o público poderá interagir de duas formas: falando alguma coisa próximo de um microfone para que uma assistente digital capte, grave os sons que foram emitidos e materialize-os visualmente; ou então se movimentando em frente à obra.
“Basicamente, com essa instalação, tentamos reverter a nossa relação usual com o som. Geralmente, o som vem em nossa direção. Ele se movimenta no ar [direto] e chega em nossos ouvidos enquanto estamos parados. Nesse caso [da obra], o som está congelado no ar e precisamos nos mover para explorá-lo”, explicou Jean-Philippe Côté à Agência Brasil.
Segundo Victor Drouin-Trempe, esta é a primeira vez que eles trabalham em colaboração. Também é a primeira vez que participam desse festival no Brasil. “Esta é a nossa primeira vez no File, mas já mostramos essa obra em diferentes festivais e vimos como as pessoas interagem com ela. É muito divertido ver essa interação e as diferentes interpretações que as pessoas dão a esse equipamento que idealizamos”, completou.
Outra obra que deve chamar a atenção do público é a instalação interativa Expanded Iris, da brasileira Anaisa Franco, que convida o público a olhar por um dispositivo que a artista chama de iriscópio espacial. O instrumento escaneia a íris da pessoa e projeta a sua imagem misturada a galáxias e nebulosas. “Essa é uma obra em que a artista propõe a captura da íris e, a partir dessa imagem, cria uma relação de fusão com imagens de galáxias, que simulam a íris. Essa fusão imagética cria uma relação contemplativa”, explicou a curadora.
Já na obra Captured, da finlandesa Hanna Haaslahti, o rosto do visitante é capturado para criar um avatar digital. Esse visitante então passará a fazer parte de um cenário coletivo no mundo virtual. “São interações que não exigem do espectador manipular ou mexer. Basta entrar em frente a uma câmera para seu rosto ser captado e você poderá fazer parte de um sistema, onde um grupo de pessoas começa a se relacionar. E todas essas questões inerentes à relação humana surgem nesse meio virtual”, disse Paula.
Além das obras dentro do Centro Cultural, o festival deste ano promove uma série de imagens de realidade aumentada, que são acionadas por meio de QRCode, dentro da estação de metrô Trianon-Masp.
File Led Show
Do lado de fora, o edifício do Centro Cultural Fiesp servirá de palco de exibições, com projeções de led que vão acontecer diariamente, enquanto durar o festival. Essa intervenção no prédio da Fiesp poderá ser vista por qualquer pessoa que circular pela Avenida Paulista à noite. Parte desses trabalhos faz parte da série Cotidianos Imperceptíveis, resultado de uma parceria do festival com o curso de Artes Visuais, do Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), da Universidade de São Paulo.
Workshops
Com a proposta de difundir a tecnologia como linguagem criativa e o processo de desenvolvimento artístico, haverá também oficinas no mezanino do Centro Cultural Fiesp de hoje até sexta-feira (7). As atividades são gratuitas e, para participar, é necessário se inscrever no site do evento.
O festival de arte eletrônica tem entrada gratuita e fica em cartaz até o dia 27 de agosto. Mais informações sobre o File podem ser obtidas aqui.