
Óleo, tina acrílica e grafite sobre tela 90x70cm. Da série Axs Nossxs Filhxs, Natureza Morta, 2021. Lia D Castro/Divulgação.
Mostra “Passantes”, de Lia D Castro, propõe releitura de obras clássicas ao inserir pés masculinos em naturezas-mortas e paisagens, questionando olhares coloniais e hierarquias artísticas
A Galeria Martins&Montero abre no dia 1º de abril a exposição “Passantes”, da artista Lia D Castro, apresentando uma série inédita que desconstrói noções tradicionais de representação na história da arte. Com intervenções pictóricas sobre telas adquiridas em antiquários, Castro pinta pés masculinos — de homens criados em sistemas matriarcais — sobre paisagens e naturezas-mortas, subvertendo a leitura convencional desses gêneros.
A estratégia vai além da inserção de figuras humanas: as obras são expostas de ponta-cabeça, criando um contratempo visual que força o espectador a reconsiderar perspectivas cristalizadas. A inversão é também uma crítica à “retina colonial”, termo usado pela artista para descrever o olhar eurocêntrico que dominou a produção e a recepção da arte ocidental.
Inspirada no filósofo Achille Mbembe — que reflete sobre o estrangeiro como “passante” —, Castro questiona fronteiras simbólicas e exclusões históricas. Suas intervenções transformam cenas aparentemente banais em comentários políticos, destacando o impacto do colonialismo nas narrativas artísticas.
A curadoria provoca uma reflexão sobre privilégio, vulnerabilidade e poder, convidando o público a enxergar além das narrativas hegemônicas. Mesmo ao abordar temas densos, a artista mantém um tom de delicadeza e intimidade, reforçando a potência discursiva de seu trabalho.
Serviço
LIA D CASTRO: Passantes
ABERTURA – 01.04.2025 – 16h – 19h
VISITAÇÃO – até 10.05.2025
Local – Martins&Montero – Rua Jamaica 50
Sobre a artista
A prática artística de Lia D Castro (Martinópolis, 1978) oferece uma abordagem à arte que vai além de suas próprias pinturas, textos e instalações. Abrange a complexidade da sociedade e procura construir narrativas e experiências vividas mais significativas e inclusivas que vinham sendo negligenciadas em museus e galerias de arte.
Nos últimos 10 anos, Lia D Castro trabalhou como educadora, profissional do sexo, ativista dos direitos dos transgêneros e ministra palestras antirracismo e antitransfobia em instituições de arte, bem como em empresas nacionais e multinacionais. Ela também tem interesses em áreas como criminologia do ódio, antropologia, psicologia comportamental e sociologia.
Cheias de significados e ressonâncias, as pinturas de Lia D Castro refletem sobre hierarquias de gênero e raça, história da arte, transfobia e noções tendenciosas de feminilidade, em obras que convidam o espectador a examiná-las de perto. Um possante apelo à ação, enfatizando a importância da representação e da inclusão.
Em 2024, Lia D Castro apresentou duas exposições individuais institucionais – no MASP, em São Paulo, e no Museu Paranaense, em Curitiba. Em janeiro de 2023 teve sua primeira individual “Cumplicidade Refletida” na Galeria Jaqueline Martins, São Paulo – Brasil, e em abril de 2023 “Aqueles que são dignos de serem amados” na Galeria Jaqueline Martins, Bruxelas – Bélgica, com texto curatorial de Mohamed Almusibli. Recentemente, ela participou de exposições coletivas, incluindo “Middle Gate III”, com curadoria de Philippe Van Cauteren em Geel, Bélgica; “Hors de la nuit des normes, hors de l’énorme” ennui com curadoria de Clement Raveu e Valentina d’Avenia no Palais de Tokyo, Paris; “Dos Brasis: Arte e Pensamento Negro” com curadoria de Igor Simões no Sesc, São Paulo; “Art of Treasure Hunt – Women in Tuscany” organizada por Luziah Hennessy em diversos locais como Castello AMA, Castello di Brolio, Borgo San Felice, Colle Beretto, Villa Geggiano – Itália. Em 2022 apresentou a individual “Axs Nossxs Filhxs” no Instituto Çare, São Paulo – Brasil, entre outros. Seu trabalho faz parte de coleções particulares e institucionais, incluindo S.M.A.K. Gante, entre outros.