
Rio de Janeiro - A escritora Nélida Piñon recebe comenda da Ordem Padre José de Anchieta, na abertura do ano Mulheres na Literatura da Academia Carioca de Letras (Fernando Frazão/Agência Brasil)
A escritora carioca Nélida Piñon morreu hoje (17) em Lisboa, aos 85 anos. Integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde 1989, ela foi a primeira mulher a presidir a entidade. Ocupou o posto entre 1996 e 1997. Em nota, a ABL destacou a importância de Nélida Piñon. A causa da morte não foi informada. A entidade anunciou que o sepultamento será no seu mausoléu, mas não divulgou a data. A realização de uma Sessão da Saudade está confirmada para o dia 2 de março de 2023, no Salão Nobre. A ABL informou que trata-se de uma cerimônia tradicional, na qual os integrantes externarão o seu sentir e o seu pensar sobre a colega homenageada. A Câmara Brasileira do Livro (CBL) também lamentou a perda de “uma das mais brilhantes escritoras brasileiras”.
Nélida Piñon estreou na literatura com o romance Guia-mapa, de Gabriel Arcanjo, publicado em 1961, que tem como temas o pecado, o perdão e a relação dos mortais com Deus. No romance A República dos Sonhos, baseado em uma família de imigrantes galegos no Brasil, ela faz reflexões sobre a Galícia, a Espanha e o Brasil. Sua obra já foi traduzida em inúmeros países, tendo recebido vários prêmios ao longo de mais de 35 anos de atividade literária. Ganhou diversos prêmios, como o Pen Clube de Literatura por sua mais recente obra, Um Dia Chegarei a Sagres, lançada no final de 2020.
Primeira mulher a presidir a ABL
Nélida Piñon é a quinta ocupante da cadeira 30 da ABL, tendo sido eleita em 27 de julho de 1989, na sucessão de Aurélio Buarque de Holanda, e foi recebida em 3 de maio de 1990 por Lêdo Ivo. Em 1996-1997, tornou-se a primeira mulher, em 100 anos, a presidir a academia, no ano do seu primeiro centenário. Formou-se em Jornalismo em 1956 na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Colaborou em vários jornais e revistas literários e foi correspondente no Brasil da revista Mundo Nuevo, de Paris, e editora assistente de Cadernos Brasileiros. Nélida publicou seu primeiro romance em 1961, “Guia-mapa de Gabriel Arcanjo”. O início dos anos 70 é marcado pelo lançamento, em 1972, de um de seus melhores e mais conhecidos romances, “A casa da paixão”, que recebeu o Prêmio Mário de Andrade.
Autora de mais de 20 livros, entre romances, contos, crônicas e infantojuvenis, sua obra já foi traduzida em inúmeros países, tendo recebido vários prêmios nacionais e internacionais. Entre os prêmios ganhos, destacam-se o Prêmio Internacional Juan Rulfo de Literatura Latino-Americana e do Caribe, em 1995 (pela primeira vez para uma mulher e para um autor de língua portuguesa); o Bienal Nestlé, categoria romance, pelo conjunto da obra, em 1991; e o da APCA e o Prêmio Ficção Pen Clube, ambos em 1985, pelo romance “A República dos Sonhos”.
Seus escritos foram traduzidos em mais de 30 países e contemplam romances, contos, ensaios, discursos, crônicas e memórias, que renderam conquistas importantes, entre eles o Prêmio Jabuti, o mais tradicional reconhecimento literário do Brasil. Ela recebeu a honraria na edição de 2005 com o romance Vozes do Deserto. Nélida Piñon recebeu ao longo de sua carreira mais de 40 condecorações nacionais e internacionais.
No meio acadêmico, foi professora na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e obteve o título de Doutor Honoris Causa em instituições de ensino de diferentes países. Em 1998, foi a primeira mulher a alcançar esse feito na Universidade de Santiago de Compostela, na região da Galícia, na Espanha.
Sua morte foi lamentada por amigos nas redes sociais. “Um silêncio inacreditável se faz na alma dos que amam a literatura. A minha querida amiga de tantos anos, Nélida Piñon nos deixou há pouco em Lisboa. Ela me mandou esta foto semana passada, prometendo estar hoje no Rio para um almoço. Tristeza imensa”, escreveu o jornalista, escritor e gestor cultural Afonso Borges. Junto à postagem, ele compartilhou uma imagem da escritora acariciando no colo seu cachorro de estimação.
O sociólogo Sérgio Abranches também manifestou seu pesar. “Estou arrasado com a morte da amiga querida, Nélida Piñon. Era de uma doçura e gentileza inexcedíveis. Uma escritora forte. Uma mulher autodeterminada. Uma perda para o Brasil e para a literatura. Uma perda pessoal. Falamos pouco antes de ela partir para Espanha e Portugal”, escreveu.