Turismo pode proteger comunidades e ecossistemas de montanha, sugere FAO
O turismo de montanha, se gerido de forma sustentável, tem potencial para aumentar a renda de comunidades e ajudar a preservar recursos naturais e cultura. No entanto, a falta de dados e conhecimento sobre o assunto impedem que essas oportunidades sejam plenamente aproveitadas. Essa é a conclusão de um relatório divulgado, neste 26 de abril, pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, em parceria com a Organização Mundial do Turismo. OMT, e a Mountain Partnership.
Quase 200 milhões de turistas
Para Maximo Kaush, recordista mundial em montanhas com mais de 6 mil metros de altura, o turismo sustentável nesses destinos deve ser incentivado e pode ter um efeito positivo na preservação dos ecossistemas. De acordo com ele, quando há visitantes em áreas de preservação, atividades mais nocivas, como mineração, perdem espaço.
“Uma coisa que a gente sempre luta para divulgar é a ideia de que você liberando um lugar para as pessoas irem, acaba protegendo o lugar. A gente vê muitos lugares fechados, às vezes parques nacionais ou parques estaduais em vários lugares do mundo onde as pessoas não conseguem ter acesso, e o extrativismo, que não existia antes, começa. Tanto a mineração, extração de rocha, de espécies vegetais, caçadores… E isso não acontece quando se tem acesso liberado para montanhistas”, ressalta ele, que é dono de uma agência de turismo com foco nos roteiros de montanha.
Com base na metodologia do estudo da ONU, o turismo internacional de montanha foi estimado entre 9% e 16% das chegadas de turistas internacionais em todo o mundo, ou entre 195 milhões e 375 milhões de turistas.
Fonte de renda para comunidades locais
Além da questão ambiental, Kaush também destaca o cuidado com a economia das comunidades próximas aos destinos.
“Fora a questão ambiental e da poluição, ainda tem o impacto negativo que isso pode ter na população local em questões de emprego. A gente sempre tenta trabalhar com mão de obra local. Isso é um conceito que a gente deve divulgar entre as empresas. A gente nota, por exemplo, que muitos brasileiros querem ir para roteiros fora do Brasil com guias brasileiros, o que é excelente. No entanto, a gente precisa empregar muita gente local por questões econômicas. […] meu maior medo desse crescimento desenfreado é como isso pode afetar a população”, alerta.
Casa para 1,1 bilhão de pessoas
Segundo os dados da FAO, as montanhas abrigam cerca de 1,1 bilhão de pessoas, algumas delas entre as mais pobres e isoladas do mundo.
Com esta publicação, o levantamento busca suprir lacunas para entender melhor sobre a realidade das áreas montanhosas e o turismo nesse ecossistema.
A publicação também identifica tendências e fornece um conjunto de recomendações para avançar na mensuração do turismo de montanha, incluindo o progresso nas estatísticas oficiais de turismo e o uso de big data e novas tecnologias.
Esforço coletivo e ODS
Segundo a FAO, a escassez de dados relacionados ao turismo doméstico não permitiu estimar a contribuição desse importante segmento. O relatório também fornece exemplos de abordagens inovadoras para medir o turismo de montanha e planejar e gerenciar seus impactos.
A FAO e seus parceiros recomendam um esforço coletivo, envolvendo partes interessadas públicas e privadas em toda a cadeia de valor, para melhorar a coleta, padronização e entrega de dados para obter uma avaliação mais abrangente do turismo de montanha em termos de volumes e impactos, para que possa ser melhor compreendido e desenvolvido para que se alinhe com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).