Pesquisadores descobrem novo habitat marinho em Ubatuba, litoral norte paulista
Um banco de rodolitos com mais de 5.000 m² acaba de ser revelado por pesquisadores do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo. Rodolitos são nódulos formados por algas calcárias que quando em grande quantidade formam um dos mais diversos habitats marinhos da plataforma continental brasileira. Os primeiros indícios da ocorrência desse novo habitat na Ilha das Couves, Ubatuba (SP), foram obtidos durante as atividades impostas à Petrobras e executadas pela empresa Guará Vermelho, no contexto do licenciamento do Pré-Sal, Etapa 3. Durante a análise dos relatórios apresentados, técnicos da Fundação Florestal se surpreenderam com os indicativos da presença de um habitat tão importante e ainda nunca registrado, em águas tão rasas (i.e., aproximadamente 6 metros de profundidade), em um dos locais mais visitados do litoral norte paulista. “No momento em que nossos técnicos se depararam com tal informação refletimos o quão importante é o nosso trabalho, tanto na análise de impactos ambientais quanto no estabelecimento de condicionantes. Estas, quando bem executadas, constituem ferramenta de grande valor para a conservação da biodiversidade”, explica Diego Hernandes, biólogo e diretor regional da Fundação Florestal.
Para corroborar os primeiros indícios da ocorrência desse banco de rodolitos, a Fundação Florestal entrou em contato com pesquisadores do Instituto do Mar da Unifesp (IMar/Unifesp) que, no início de março, realizaram uma visita técnica no local e corroboraram a ocorrência desse novo e importante atributo ecológico do litoral paulista. Os resultados da visita acabam de ser publicados em uma Nota Técnica Conjunta IMar/Unifesp e Fundação Florestal (disponível em: https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/67268). “Sermos reconhecidos como uma instituição competente e sempre disposta a contribuir com outras instituições, em prol da ciência e conservação marinha, é a nossa missão e esse é mais um exemplo de que a recente criação do nosso instituto foi uma politica acertada”, comenta o dr. Igor Medeiros, diretor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo, criado há cerca de dez anos.
A visitação à Ilha das Couves, orientada pela Portaria Normativa FF/DE nº 350/2022, é coordenada por um grupo de trabalho de gestão compartilhada, que envolve representantes da Comunidade de Picinguaba, da Almada, do Estaleiro e Ubatumirim, além do trade turístico da região central do município. O rodízio envolve três turnos: manhã das 8h às 12h, almoço das 12h às 15h e tarde das 15h às 18h. “A descoberta do banco de rodolitos, além de valorizar atributos ecológicos do nosso litoral norte, também revela mais um atrativo turístico para o local. A riqueza e a biodiversidade desse banco abre uma perspectiva para atividades de sensibilização ambiental, divulgação e educação científica bem como ciência cidadã, possibilitando a reflexão sobre a importância ecológica dos bancos de rodolitos, envolvendo prioritariamente a comunidade local e operadores de turismo que atuam na região, promovendo a capacitação de monitores e pequenos empreendedores convergindo com as ações de Turismo de Base Comunitária atualmente em desenvolvimento.”, explica Marcio José dos Santos, biólogo e gestor da Área de Proteção Ambiental (APA) Marinha do Litoral Norte, da Fundação Florestal.
A descoberta também levanta uma série de perguntas científicas que devem ser tema dos próximos trabalhos do Laboratório de Ecologia e Conservação Marinha da Unifesp. “Até 2019, quando registramos um banco de rodolitos anexo ao recife de corais da Ilha da Queimada Grande, não se tinha conhecimento desses habitats no litoral de SP. Perceber esse habitat, recobrindo mais de cinco mil metros quadrados, na Ilha das Couves, em uma profundidade de apenas seis metros, evidencia ainda mais a nossa carência de informações acuradas sobre a diversidade marinha. O estado de São Paulo, no contexto das suas Unidades de Conservação Marinhas, tem a oportunidade ímpar de sair na frente e dar exemplo a outros estados brasileiros nessa que é, segundo a ONU, a Década dos Oceanos”, comenta o dr. Guilherme Pereira-Filho, um dos coordenadores do LABECMar/Unifesp e um dos pesquisadores que assinam a Nota Técnica.