3 de outubro de 2024

Exposição gratuita une pintura, xilogravuras, poesia e performances “Para falar de amor”

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Muro sendo pintado para a exposição. Foto Crédito Divulgação.

Sexta-feira, 27. A partir desse dia, está aberta ao público a exposição “Para falar de amor”, que reúne obras de cerca de 60 artistas e ocupa um patrimônio histórico e centenário da capital paulista: o prédio do antigo Noviciado Nossa Senhora das Graças Irmãs Salesianas, atual retrofit Alfa Realty, no bairro do Ipiranga. Com curadoria do artista Saulo di Tarso, a mostra busca promover a ressignificação e o encontro por meio  da arte, explorando temas como fé, ativismo integrativo e sincronicidade. A realização do evento fica por conta da plataforma de produções culturais Kura por Kauê Fuoco, que se dedica à cura e ressignificação de pessoas, espaços e histórias. A mostra fica em cartaz até o dia 6 de outubro e tem entrada gratuita.

Na década de 1990, o Brasil passou por profundas transformações culturais e sociais. A chegada da internet e das redes sociais trouxe a expectativa de maior integração global e o fim das fronteiras, enquanto o país transitava da ditadura militar para uma nova democracia. Esse período também viu um aumento das preocupações ambientais e sociais, com movimentos artísticos como o Hip Hop e o Graffiti começando a substituir a Bossa Nova e a Tropicália. No entanto, de acordo com os organizadores da exposição, apesar de todos os desafios e mudanças históricas, a arte, em vez de promover conhecimento e diversidade, passou a estar mais ligada ao poder e imersa em conflitos políticos.

“Quando se iniciou o projeto, percebi essa liberdade de poder falar de aspectos que realmente importam para a arte, como o sagrado, o poder filosófico e poético, e a dinâmica da vida e da interação livre, onde os artistas e as pessoas podem manifestar aquilo que sentem sem precisar estar dentro de uma caixinha. Para mim, o mais importante hoje é destacar a liberdade dos artistas”, afirma o curador Saulo di Tarso sobre um dos objetivos da exposição.

Nesse contexto, “Para falar de amor” adota vários títulos, alinhando-se à proposta da plataforma Kura. Acredita também na arte como um meio de transformação, destacando sua importância na criação e no encontro, desde suas formas mais visíveis até as sutilezas do sentimento e pensamento. “Dentro desse pluritítulo, chegamos à compreensão de que o amor era traduzido pela fé e que a fé traduziu o amor. Esses são tópicos transversais no projeto da exposição, que na verdade é um lugar de encontro”, complementa Tarso.

Inédita

O público terá a oportunidade de explorar a inédita obra “Sincronicidade”, que apresenta uma coleção de narrativas do artista e curador, abordando 20 anos de experiências pessoais e artísticas e culminando na plataforma Kura. Entre as peças, estão obras de sua coleção e contribuições de outros colecionadores, como o advogado suíço Gian Andrea Danuser. A exposição também inclui um arquivo de Tarso e Lia Cassettari, oferecendo um panorama das influências e encontros que moldaram o trabalho do artista.

“Além disso, trago para a exposição dois jovens artistas italianos que vivenciaram o cerne da pandemia e realizaram intervenções, refletindo sobre as lacunas deixadas por aquela realidade. Essa ação está em plena sintonia com a proposta do Kura”, explica Tarso em referência ao eixo “Niente da fare”, de Matteo Zoccolo, que reflete a desolação social pós pandemia na cidade de Biella. O artista apresenta anotações e o objeto “Andrà tutto bene“, que inclui seu primeiro teste positivo para covid-19 ao lado de uma imagem de Jesus crucificado. A exposição também destaca a pintura de Leonardo Maurizio, outro jovem italiano, que explora a “arte pós-vandalismo” e avança o debate sobre a Street Art.

Diversidade de obras

O curador acrescenta que a exposição conta com uma diversidade de obras, incluindo pinturas, poesia, literatura e performances. O público também terá a oportunidade de apreciar três séries de xilogravuras de Albrecht Dürer, “Apocalipse”, “A Grande Paixão” e “A Vida da Virgem”, totalizando 48 obras. Introduzidas por Giorgio Vasari e reimpressas em 1977 por Victor Ceratto, as gravuras, criadas entre 1500 e 1511, serão apresentadas ao lado de peças contemporâneas. Essa parte visa integrar a atemporalidade das gravuras de Dürer, que revolucionaram a imagem sacra e a xilogravura, com trabalhos atuais de artistas brasileiros, como Guy Veloso, que exploram a temática da fé.

Ainda entre as coleções expostas, estarão artistas estrangeiros como Otto Müller, Trudi Demuti, Hannes Bossert, Stefan Sadkowski, Milena Ehrensperger, Pjotr Kraska, Alexander Tuchacek, Krisztian Frey, Fred Engelbert Knecht e Joseph Beuys. Representando o Brasil, a mostra contará com trabalhos de Paulo Nazareth, Cildo Meireles, Paulo Bruscky, Gerald Thomas, Aparício Basilio, Sidney Amaral, Koellreutter, Di Cavalcanti, Hugo Adami e Alfredo Volpi.

Entre os artistas contemporâneos, destaca-se Francisco Silva Aka Nunca, conhecido por combinar gravura histórica com grafite nas ruas de São Paulo. Sua participação marca o retorno após uma pausa de cinco anos, durante a qual esteve afastado da cena artística global. Reconhecido por seus murais na Avenida 23 de Maio e por seu trabalho em descolonização e ancestralidade, Nunca é um dos artistas mais influentes de sua geração.

Além disso, em vez de narrativas românticas, a mostra apresenta expressões artísticas que destacam o amor como uma ação e estrutura da vida, incentivando a reflexão sobre novos caminhos além da polarização social recente. Destaque para a obra de Lau Guimarães, que há décadas incorpora a palavra “carinho” em diversos contextos urbanos. “Ademais, a presença de cada pessoa será levada ao status de arte. Será um espaço onde cada artista, cada visitante, poderá falar, em algum momento, o que é a fé, o que é o amor, o que é sincronicidade”, completa.

Kauê Fuoco, produtor cultural, artista plástico, empreendedor e idealizador do Kura, reforça que a mostra está em sintonia com a missão da plataforma, que é ressignificar, criar e reintegrar pessoas à cultura. “Com a exposição, mostramos ao mundo nossa visão. Além disso, é uma mostra gratuita e sem fins lucrativos, com o objetivo de proporcionar uma experiência enriquecedora e transformadora,” conclui.

Meditação no labirinto

A mostra irá incluir uma atividade de meditação oferecida pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), permitindo aos visitantes percorrer uma reprodução do labirinto da Catedral de Chartres. Conduzida pela pesquisadora Daniele Lizier, a atividade visa integrar cultura, comunidade e autoconhecimento como ferramentas de cura e melhoria da qualidade de vida. A meditação no labirinto demonstra como o ativismo integrativo pode transformar a prática, ao abrir novas perspectivas culturais e incorporar práticas holísticas, promovendo uma sociedade mais equilibrada e saudável.

Exposição “Para falar de amor”

26 de setembro – inauguração da exposição, com evento fechado para imprensa e convidados, das 16h às 19h

Abertura ao público, dia 27, às 16h

Visitação:

27 de setembro (sexta-feira), das 16h às 19h

28 e 29 de setembro (sábado e domingo), das 14h às 19h

3 e 4 de outubro (quinta e sexta-feira), das 16h às 19h

5 e 6 de outubro (sábado e domingo), das 14h às 19h

Entrada gratuita

Classificação etária: livre

Espaço Kura (Rua Clóvis Bueno de Azevedo, 176, Ipiranga, São Paulo)

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