3 de maio de 2024

Centro Cultural São Paulo expõe obras de Júlio Veredas com o toque da música de Elomar

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Obra "O Violeiro", de Júlio Veredas. Foto Crédito: Diogo Locci

No final dos anos 1970, ao ganhar uma fita cassete de um artista cujas músicas contavam com um dialeto próprio e com uma sonoridade que  estabelece um  novo paradigma para a música erudita brasileira, o artista plástico Júlio Veredas se viu completamente apaixonado pela obra do músico e compositor Elomar Figueira Mello. Sua aproximação com a obra de Elomar fez com que se iniciasse ali uma série de obras artísticas atravessadas pela musicalidade do músico e que, agora, estão reunidas na exposição Profundus, Sertanus, Incantatus, que entra em cartaz no Centro Cultural São Paulo (Piso Flávio de Carvalho – Lateral 23 de Maio) a partir do dia 20 de julho, quinta-feira, a partir das 17h. No dia de abertura, às 20h, haverá uma apresentação musical com repertório de Elomar Figueira Mello comandada pelo maestro e violonista João Omar e a violoncelista Gabriela Mello, filho e neta de Elomar, respectivamente.

A mostra, com curadoria do mestre em artes visuais  Allan Yzumizawa, traz aproximadamente trinta obras de Júlio – entre desenho feitos em grafite sobre papel, nanquim sobre papel e aquarela – criadas desde o início dos ano 1980, quando conheceu Elomar pessoalmente -, até 2022. O projeto é realizado com o prêmio Exposição Inédita do PROAC 2022 com apoio do Centro Cultural São Paulo.

Conhecido por uma obra influenciada drasticamente pela música e pela literatura, Júlio conta que os trabalhos apresentados nessa exposição inédita também são influenciados pela poética do escritor João Guimarães Rosa, que  reconstrói a imagem do sertão e o  universaliza quando transcende o eterno  conflito entre o ser humano e o destino que o espera – característica comum com a música de Elomar Figueira Mello.

Sob a perspectiva da busca e exploração do sertão de si mesmo, Júlio  Veredas ilustra essa encruzilhada de onde partem e convergem  inúmeros caminhos e alternativas que habitam seu íntimo. “O título dessa exposição traz algo do encantamento que flagrei na minha convivência com amigos que vivem na Caatinga”, conta Júlio. “Muitas vezes eles me contavam suas histórias em botecos na beira de estradas e eu contava as histórias do que estava vivendo em São Paulo. Mesmo morando lá por muito tempo, não me sentia um vaqueiro, um catingueiro, e é nessa troca que nossas histórias ganhavam um certo encanto, uma formação de nossas identidades”, completa o artista.

Elomar Figueira Mello, baiano de Vitória da Conquista, é compositor, escritor, violonista e  cantor. Hoje, com 85 anos, é considerado um  artista ímpar na música brasileira e sua obra surge como um marco  significativo dentro do panorama da música popular brasileira, marcada pela forte  presença de variantes dialetais, arcaísmos e neologismos, formando  uma linguagem muito característica fundada na oralidade sertaneja.  Suas letras abrangem uma ampla gama de temas, na maior parte  das vezes vinculado ao imaginário rural do sertanejo nordestino,  ainda que com elementos medievais, cristãos e ibéricos.

“Quando vi pela primeira vez os desenhos desse malungo Julio Veredas, gostei muito, pois  vi desenhos de algumas estrofes minhas e centenas dele. Vi que retratava a própria vereda  que sua alma bonita percorre. Ao contemplá-los, consigo ver como que em sonhos  fragmentos de momentos das paisagens que minha alma viu antes de nascer, assim como  também ouço o prenúncio, apenas aurora mágica que anunciam a impossibilíssima  ressurreição de uma daquelas perdidas e distantes tardes da infância”, diz Elomar Figueira Mello.

Apresentação musical na abertura da mostra

Na apresentação musical pautada para a abertura da exposição, o maestro e violonista João Omar e a violoncelista Gabriela Mello reuniram um repertório de 14 músicas do ambiente sertânico de Elomar Figueira Mello que influenciaram Veredas na criação de muitas de suas obras. 

São músicas que marcaram o encontro do artista com Elomar, desde quando Júlio Veredas costumava visitar o compositor em sua fazenda, na Casa dos Carneiros, até quando acompanhou Elomar em momentos de gravação, como do Auto da Catingueira, passando também pelos concertos em São Paulo.

João Omar e Gabriela, ambos filho e neta de Elomar, respectivamente, realizam um repertório do cancioneiro elomariano onde se destacam as músicas O Violeiro, sendo esta a que mais referenciou o compositor na compreensão de sua figura artística, as músicas Campo Branco, Arrumação e Cantiga de Amigo, obras de igual valor e que se tornaram das mais conhecidas. 

Também apresentam duas de suas cantigas que referenciam diretamente a cultura ibérica medieval, sendo elas Acalanto e Rapto de Joana do Tarugo, com estórias de reis e cavalheiros que muito figuram na tradição oral no sertão. Do Auto da Catingueira apresentam a música O Pedido, parte solo com Gabriela ao violoncelo, e a música Clariô, que simboliza as festas no sertão.

“Júlio é um malungo, amigo e cúmplice de jornadas, de noites de encontros que ficaram na memória, quando nos reuníamos aqui em Conquista, ora em produções de algum trabalho, ora simplesmente pra gente se encontrar e bater um dedo de prosa. A minha impressão é que estes malungos nos ajudam a seguir acreditando no caminho que trilhamos, carregando no alforge valores que vem se perdendo, mas que ficam sedimentados nas cantigas e quadros e que certamente servirão como fonte para matar a sede de quem quer reviver a alma dum sertão esquecido”, diz João Omar.

Sobre os artistas

Júlio Veredas 

Com uma atuação intensa a mais de 40 anos na artes visuais, Júlio  Veredas, se destaca pela singularidade de seu trabalho, que dialoga  com a música e a literatura e constrói uma obra que traz aspectos da  cultura popular sob a perspectiva da busca e exploração do sertão  de si mesmo. Artista autodidata, desde muito cedo passou a  frequentar cursos livres de artes e atuar na área de eventos culturais.  Natural de Sorocaba Julio Veredas, residiu por muitos anos na capital  convivendo com grupos de música e teatro, quando inicia as  primeiras mostras de seus desenhos, realizando exposições  individuais no Centro Cultural São Paulo e no MASP (1983/1984),  mantendo em paralelo uma produção em sua cidade natal, Sorocaba,  com artistas diversos e na cidade de Vitória da Conquista Bahia, terra  do compositor Elomar Figueira Mello, que passa a ser uma grande  referência em seu processo artístico. 

Essa geografia se mantém  presente em toda sua trajetória e torna-se marcante na produção de  seus trabalhos que resultam hoje numa coleção de aproximadamente  1000 ilustrações entre Aquarelas, Grafites, Nanquim e Colagem, com  participações em projetos como Projeto Terra Rasgada – SECSP,  Projeto Glauber Rocha Museu Regional Vitória da Conquista  (BAHIA), e dezenas de exposições individuais e coletivas. 

Colaborando com outros trabalhos tem desenvolvido ilustrações para  livros, encarte de CDs, restauros, além de participar ativamente da  política cultural de Sorocaba, integrando o Conselho Municipal de  Cultura e atuando como gestor de Espaço Artístico colaborativo  (Teatro OFF), sendo por isso homenageado pelo mais tradicional  bloco carnavalesco de Sorocaba, o Depois a Gente se Vira, em 2020.

Toda a poesia e delicadeza empregada em sua jornada como artista  plástico não exclui sua habilidade em lecionar para pessoas de  diferentes faixas etárias conteúdos técnicos de desenho. Atuando em  projetos em sistemas penitenciários e hospitais psiquiátricos, oficinas  em diversas cidades do interior de São Paulo, aulas particulares e  projetos educativos do sistema S. 

A pandemia criou uma nova etapa em seu processo de trabalho, com  o fim das aulas e exposições passou a se dedicar integralmente à produção em seu ateliê e a se reinventar no ambiente virtual das  redes sociais, conquistando um público novo que observa novos  elementos no significado de suas obras. Atualmente mantém uma  comunicação diária com internautas e uma intensa atividade com a  criação de aquarelas onde amplia o conceito de sertão como algo  transversal do interior dos lugares e do ser. 

João Omar

João Omar de Carvalho Mello é natural de Vitória da Conquista. Mestre em Regência Orquestral e graduado em Composição e Regência pela UFBA. Seu instrumento principal é o violão, o qual estuda desde 1984, tendo frequentado classe dos professores Turíbio Santos, Mário Ulloa e Henrique Pinto. Com este instrumento lançou seu primeiro disco solo, Corda Bamba, que foi gravado em 2007 pela Petrobrás Cultural tendo já se apresentado nos festivais de música BNB Instrumental e Mostra Internacional de Música em Olinda. Com o violoncelo, seu segundo instrumento, tem realizado gravações em discos de música trovadoresca e de música instrumental. Desenvolve atividades como compositor, arranjador, instrumentista e diretor musical. Seus trabalhos concernem peças para violão solo, quarteto de cordas, orquestra, coro e canções, numa linguagem que abrange a música de concerto rebuscada com inspiração em elementos da cultura popular, além de compor trilhas sonoras para vídeos, filmes e espetáculos teatrais.

Gabriela Almeida Mello

Natural de Vitória da Conquista – BA, Gabriela Almeida Mello, licenciada em Matemática pela Universidade Estadual da Bahia – UESB, começou a estudar violoncelo com o maestro João Omar. Foi integrante da Orquestra Conquista Sinfônica – OCS, onde também passou a ministrar aulas voluntárias para crianças. Trabalhou na Associação Casa dos Carneiros com escrita e revisão musical do acervo de Elomar Figueira Mello, patrocinado pelo Itaú Cultural. Atuou durante dois anos  como professora de musicalização infantil no Colégio de Música Nazareth. Se especializou em Musicoterapia, pela Faculdade Regional de Filosofia, Ciências e Letras – FAC e atualmente graduada no bacharelado em violoncelo, integrando a classe da professora Drª Suzana Kato na Universidade Federal da Bahia – UFBA, que possibilitou a participação em concertos com a Orquestra Sinfônica da Universidade Federal da Bahia – OSUFBA e a Orquestra Sinfônica da Bahia – OSBA.

Serviço:

Profundus, Sertanus, Incantatus | Júlio Veredas

Local: Centro Cultural São Paulo – Piso Flávio de Carvalho – Lateral 23 de Maio

Endereço: Rua Vergueiro, 1000 – Paraíso, São Paulo – SP, 01504-000

Período expositivo: 20 de julho de 2023 até 23 de agosto de 2023. Terça a sexta, das 10h às 20h. Sábado, domingo e feriados, das 10h às 18h

Entrada gratuita 

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